Piso mínimo de frete: por que as multas aumentaram tanto?
Nos últimos meses, transportadoras de todo o país têm sido surpreendidas com o aumento expressivo das autuações relacionadas ao piso mínimo de frete. A fiscalização passou a operar em um novo patamar, agora com automação, volume elevado de verificações e critérios mais rígidos quanto ao preenchimento dos documentos obrigatórios. Em artigo anterior, já tratamos a respeito das multas de Vale Pedágio Obrigatório, agora trataremos da Política Nacional do Piso Mínimo de Frete.
No dia 2 de outubro, em Brasília, o time do Andrade Setti Advogados esteve presente no 1º Encontro do Transporte Rodoviário de Cargas promovido pela ANTT, evento que reuniu empresários, especialistas, entidades e a alta cúpula da agência reguladora. O objetivo era claro: trazer luz aos pontos que mais vêm gerando multas e esclarecer como a fiscalização será conduzida daqui para frente.
A seguir, reunimos os principais pontos discutidos no evento e o que as empresas precisam fazer imediatamente para reduzir riscos e evitar penalidades. Se você preferir, também pode conferir nosso vídeo no YouTube, que trata sobre o mesmo assunto:
1. A escalada da fiscalização do piso mínimo de frete: números que explicam o cenário atual
A principal apresentação sobre o tema foi conduzida por Hugo Rodrigues, superintendente da SUFIS, departamento da ANTT responsável pela fiscalização. Ele apresentou dados inéditos sobre a evolução das autuações.
Até abril de 2025, a ANTT realizava, em média:
2 mil fiscalizações mensais
450 autos de infração por mês
Com o início da fiscalização eletrônica automática, a partir de abril, os números saltaram para:
31 mil fiscalizações mensais
6 mil autos de infração por mês
O impacto disso é evidente: somente entre abril e outubro de 2025 foram lavradas 38 mil autuações por piso mínimo, quase dez vezes mais do que todo o ano de 2024, que registrou 4.287 multas.
A mensagem da agência é inequívoca: a fiscalização veio para ficar, será contínua e cada vez mais precisa.
2. O questionamento constitucional do piso mínimo de frete e a posição da ANTT
Logo na abertura do evento, Vander Costa, presidente da CNT, lembrou que há uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) em tramitação no STF contestando a lei do piso mínimo.
A provocação era clara: se a norma está sub judice, não deveria a fiscalização aguardar o julgamento?
A resposta do diretor da ANTT, Amaral Filho, foi imediata e objetiva:
Enquanto a lei estiver vigente, a agência é obrigada a fiscalizar e aplicar multas.
Ou seja, não haverá suspensão nem moderação da atuação fiscalizatória. A ANTT seguirá cumprindo integralmente a legislação em vigor.
3. Erros que têm gerado multas de piso mínimo de frete – e como evitá-los
Com base nas explicações técnicas e na experiência do escritório nos processos administrativos e judiciais sobre o tema, destacam-se os erros mais frequentes que levam à autuação:
a) Valor do frete abaixo da tabela vigente
Muitas empresas continuam utilizando tabelas antigas ou calculando o valor de forma incorreta.
A ANTT reforçou que o cálculo deve ser feito com base:
no CT-e,
no MDF-e,
no CIOT,
e sempre no valor total do frete contratado, jamais apenas no adiantamento.
A agência possui calculadora própria – o uso dela evita erros simples que geram multas pesadas.
b) Declaração incorreta do valor total do frete
É comum que transportadoras declarem apenas o valor de entrada (ex.: 70% do frete) no CT-e, omitindo o valor final.
Ainda que, na prática, o piso mínimo tenha sido respeitado, o documento incorreto gera autuação.
c) Adiantamento de insumos excluído do documento
Combustível, pedágios ou quaisquer despesas que componham o frete devem aparecer nos documentos.
Se não constarem, a ANTT presume descumprimento da tabela.
d) Falta de informações obrigatórias
Hoje é necessário incluir:
dados completos do motorista,
dados bancários,
forma de pagamento,
dados do contratante e subcontratante.
Pequenas omissões são suficientes para gerar autuação automática.
e) Ausência de lastro documental
A defesa administrativa depende de documentos.
Se o transportador não guardar corretamente os comprovantes, terá grande dificuldade em reverter multas.
4. Situações nebulosas no piso mínimo de frete: o que a ANTT sinalizou
Nem todos os cenários são simples. O evento tratou brevemente de situações que seguem em zona cinzenta:
Cargas fracionadas e piso mínimo de frete
Não há disciplina específica na lei.
A princípio, a ANTT não tem autuado nesses casos, e pareceres internos apontam nesse sentido.
Redespacho e piso mínimo de frete
Operações divididas entre dois modais ou dois transportadores podem resultar em documentos com valor parcial do frete.
Isso tem gerado autuações e exige atenção redobrada na emissão.
Frete de retorno e piso mínimo de frete
Mesmo o frete “baratinho” apenas para voltar não pode ser inferior ao piso.
É uma das situações que mais surpreendem motoristas e transportadoras.
5. Multas indevidas: a importância da defesa técnica
O aumento na automatização também amplia o número de autuações indevidas.
Em muitos casos, o transportador:
cumpriu a legislação,
declarou corretamente,
respeitou o piso,
mas a verificação eletrônica identificou divergência ou ausência de informação.
Nessas situações, é fundamental apresentar:
impugnação administrativa bem estruturada, e, se necessário,
recurso judicial para anular a autuação.
Nosso escritório acompanha diariamente defesas desse tipo e tem observado inúmeros casos de erros formais, inconsistências nos registros e interpretações equivocadas por parte da fiscalização automática.
Conclusão: o setor precisa se adaptar imediatamente
A ANTT deixou claro: não haverá recuo.
A fiscalização continuará intensa, automática e permanente.
Transportadoras que operam com subcontratação, operações complexas ou grande volume documental precisarão reorganizar procedimentos internos, treinar equipes e revisar fluxos de emissão de documentos.
A boa notícia é que, com orientação correta e processos bem estruturados, é perfeitamente possível evitar multas e atuar com segurança jurídica.
O Andrade Setti Advogados seguirá acompanhando os desdobramentos, analisando pareceres da agência e publicando conteúdos para orientar o setor.
Se sua empresa recebeu autuação ou deseja revisar seus procedimentos, nossa equipe está à disposição.